Não estava totalmente escuro, pelos vãos do corró entravam resquícios de luz. Alguns de nós já passaram por isso antes, mas eu vivia tudo aquilo pela primeira vez. Estávamos os seis sentados no chiqueirinho de uma veraneio preta e branca, velha e fétida. Os solavancos faziam nossos corpos baterem com força na lataria, dor maior que das algemas de pés e das mãos que nos apertavam. É estranho, mas parecia que a cada parada ou curva aconteceria um acidente e que todos morreríamos lá, no meio das chamas.
Mal passamos o portão principal e vimos dois bandos de espectros, ambos vestindo camisetas brancas e calças cáqui. Estávamos deles separados por uma cerca, mas um desses bandos marchava lado a lado com o nosso grupo, gritando ameaçadoramente em nossa direção; as pessoas no outro, muito maior, cuidavam de suas vidas, conversando em pequenos grupos, mal olhando para nós.
Quando nosso grupo finalmente atravessou um novo portão, alguém gritou no meio da massa: aqui é o inferno.
Um funcionário mandou que tirássemos nossas roupas e que as colocássemos ao nosso lado. Todos nus, andamos alguns metros e ficamos encostados em uma parede. O funcionário, que antes falava suavemente dando instruções, muda o tom, grita, chamando-nos de vagabundos e outras palavras impublicáveis. Um jato de água fria é jogado sobre nós – para lavar nossa alma.
Recebemos o uniforme e fomos colocados no pátio. Eu estava sozinho na fita, enquanto os outros se afundam e se mesclam no meio daqueles dois bandos que vimos assim que chegamos ao CDP. Um grupo se aproxima de mim. O homem que vem à frente diz que vai me arrebentar, os outros apenas olham. Chegou alguém que conheci um dia no Bar do Gordo, e diz a todos que sou firmeza e que ninguém deve mexer comigo. O grupo se afasta.
Bem, essa foi minha chegada ao inferno. Meu nome não falarei aqui, não por temer represálias, pois só Deus pode me punir, mas para não prejudicar aqueles que convivem comigo. Tendo notícias, lhes enviarei, direto do Antro Maldito.
isso é um absurdo apesar de tudo são seres humanos e eu sei que os policiais os tratam como animais é meio dificil sair dali transformado só deus mesmo.
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